sexta-feira, 15 de maio de 2020

Lição 3. Autoridade Bíblica por Implicação e, por Exemplo


HERMENÊUTICA DA RESTAURAÇÃO - 2TRI - 2020

SEMINÁRIO TEOLÓGICO EBNESR
Prof. Alcides Marques










Lição 3 - Autoridade Bíblica por Implicação e, por Exemplo
Leituras: Marcos 2:1-12; 1 Coríntios 10:1-14


No Sermão do Monte, Jesus Cristo enfatizou Seu compromisso com a autoridade exclusiva das Escrituras. Ele queria que Seus ouvintes soubessem que Ele tinha vindo para cumprir – trazer à sua mais completa expressão – a Palavra de Deus. Ele disse que não veio para minimizar, enfraquecer, ou abolir a autoridade bíblica. De fato, Ele visava a restaurar um entendimento correto da Palavra de Deus com relação a homicídio, adultério, votos, vingança, ou tratamento dos inimigos (Mateus 5:17-48). Por causa do amor e reverência a Cristo, os cristãos buscam preservar e continuar este mesmo comprometimento à autoridade bíblica. Fazer isso não significa que a pessoa adora o Livro, mas que a pessoa adora o Salvador que deu o Livro. Insistir na autoridade bíblica não necessariamente faz da pessoa um legalista, um racionalista, ou um fariseu.
A lição anterior notou primeiro que a Bíblia autoriza por meio de [1] afirmações diretas, tais como comandos imperativos, declarações, exortações, perguntas, etc. Os pais instruem seus filhos com estes mesmos tipos de afirmações. Contudo, os pais também ensinam por [2] implicação.

O que é uma implicação?

Uma implicação é uma dedução lógica ou conclusão, não explicitamente
afirmada, mas requerida pelo que está explicitamente afirmado. Por exemplo, quando um pai diz a seu filho: “Dê um banho no cachorro,” ele autoriza o filho por implicação a pegar os instrumentos necessários, a usar água e sabão, a proceder de uma maneira adequada, e limpar depois.

Os pais usam implicação o tempo todo. E quanto às Escrituras?

A Bíblia realmente autoriza ou proíbe por meio da implicação?

Ou isto é uma hermenêutica (método de interpretação) inventada, moderna, artificial e feita pelo homem forçada sobre o texto por aqueles que fazem o Apelo da Restauração?

Deus espera que o povo pense, interprete e use o senso comum para entender o que Ele quer?

Ou Ele sempre deixa toda verdade inconfundível e explicitamente clara?

Para responder a estas perguntas, a pessoa pode começar levando em consideração o próprio ensino de Cristo. Ele encontrou autoridade por implicação?

A resposta é um “sim” esmagador . Jesus certamente respeitava as afirmações explícitas das Escrituras.
Contudo, Ele fez mais do que simplesmente citar o próprio texto. Jesus extraiu as verdades implícitas que estavam embutidas, ou que estavam subjacentes ao texto. Jesus tratava estas implicações como verdadeiras, vinculadas e absolutas como se elas tivessem sido afirmadas explicitamente. Jesus muitas vezes usou implicação para extrair verdades das Escrituras, que eram autoritativas para Seus ouvintes.
Uns poucos exemplos bastam. A pessoa vê nestes casos que o próprio Jesus não apenas raciocinou desta forma; Ele esperava que Seus ouvintes raciocinassem da mesma maneira e que aceitassem as conclusões por implicação que Ele apresentou. Em outras palavras, na abordagem de Jesus, Ele mostrou que a razão não é uma coisa má! Não é errado usar o senso comum e a racionalidade quando estiver tratando da autoridade bíblica. Fazer isso, por si só, não faz da pessoa um racionalista que adora a lógica humana ou coloca a lógica acima da Palavra de Deus. A razão é uma ferramenta dada por Deus. Jesus esperava (e requeria) que Seus ouvintes usassem esta ferramenta.

Mateus 15:1-20, do mandamento: “Honra teu pai e tua mãe (Ex. 20:12),” Jesus extraiu a implicação de que filhos crescidos devem suprir as necessidades financeiras de seus pais idosos. Recusar-se a fazer isso é desobedecer ao ensinamento implícito (todavia autoritativo) das Escrituras. Jesus prosseguiu dizendo: “Nada que entre no homem pode torná-lo ‘impuro’” Marcos (por inspiração) acrescenta: “Ao dizer isso, Jesus (implicitamente) declarou ‘puros’ todos os alimentos. (Marcos 7:19).” A partir disso, os cristãos hoje em dia entendem a verdade por implicação de que podem comer carne de porco, mariscos e outros alimentos que foram uma vez proibidos pela lei de Moisés, embora não haja passagem que explicitamente diga: “Os cristãos podem comer bacon.”
Mateus 19:1-12, do fato de que Deus explicitamente disse que no casamento homem e mulher tornam-se uma só carne (Gênesis 2:24), Jesus extraiu a verdade implícita de que o casamento era permanente e não podia ser quebrado: “Portanto, o que Deus uniu, ninguém separe (Mateus 19:6).” Das palavras de Jesus, “exceto por imoralidade sexual” (Mateus 19:9), os cristãos hoje em dia extraem a implicação de que divórcio e recasamento são permitidos se a causa do divórcio for imoralidade sexual.
Marcos 2:1-12, do fato explícito de que Jesus levantou um paralítico de sua maca, Jesus apresentou a implicação de que Ele também possuía autoridade para perdoar pecados. O perdão dos pecados de um homem não era visível ou tangível, mas foi implicitamente provado pelo milagre visível de cura. Se Jesus podia curar o homem, Ele devia ter autoridade divina. Por causa daquilo, Ele podia perdoar pecados.
Marcos 12:13-17, do fato explícito que um denário (uma moeda romana) continha o retrato e inscrição de César, Jesus extraiu a implicação de que os judeus deviam pagar impostos.
Marcos 12:18-27, das palavras exatas a Moisés: “Eu sou o Deus de Abraão, Isaque e Jacó (Êxodo 3:6),”Jesus argumentou que estes homens ainda estavam vivos na época de Moisés, embora eles houvessem fisicamente morrido. Do fato de que eles ainda estavam vivos, Jesus ensinou que havia vida após a morte e que os saduceus estavam errados. É claro, o texto em Êxodo não afirmou explicitamente que estes homens ainda estavam vivos. Os saduceus estavam errados porque falharam em ver uma implicação autoritativa que estava “por baixo” do texto. Jesus os considerou responsáveis.

Assim, Jesus claramente reconheceu autoridade bíblica por implicação. De fato, a Bíblia toda (não apenas os evangelhos) muitas vezes extrai tais verdades não afirmadas, implícitas das verdades afirmadas, explícitas no texto. Paulo disse que Joel 2:32, “E todo o que invocar o nome do Senhor será salvo,” implicava que precisa haver fé, precisa haver o ouvir, precisa haver a pregação, os pregadores precisam ser enviados (Romanos 10:13-15). Da promessa explícita de uma “nova aliança” (Jeremias 31:31), o escritor de Hebreus (8:13) insistiu que Deus fez implicitamente a primeira aliança obsoleta. A partir da referência à “semente” de Abraão (Gênesis 12:7), Paulo extraiu a conexão implícita a Cristo (Gálatas 3:16).
Obviamente, a pessoa deve evitar os perigos e excessos. Primeiro, porque cada cristão é um pecador, o seu processo de raciocínio não é infalível . A pessoa deve humildemente admitir seu próprio viés humano e a tendência de usar a razão para racionalizar seus próprios pontos de vista. Segundo, nenhuma implicação é válida a menos que o texto a exija e garanta . Uma pessoa que impõe idéias estranhas (ou as insira) ao texto é culpada de presunção. Assim cada um deve proceder com cuidado. Contudo, tais perigos não anulam o fato de que as Escrituras autorizam por implicação e exigem raciocínio humano.

Responda a estas perguntas com as Escrituras: A Bíblia autoriza a pregação da Palavra em cada reunião dominical?

Os cristãos devem orar, cantar, ofertar, e observar a Ceia do Senhor a cada dia da semana?
Devem as mulheres ser excluídas de servirem como presbíteros? Podem as crianças ser batizadas?

É certo ou errado usar bandejas para servir o pão e suco? A igreja está autorizada a ter um dirigente de cânticos, a ter alguém para preparar a Ceia do Senhor, empregar uma secretária da igreja, obter literatura para a aula bíblica, ou usar um furgão para trazer passageiros para as reuniões da igreja?

Os cristãos podem orar a Maria e aos “santos”?

Pode um presbítero servir como bispo chefe sobre os outros?

A pessoa não pode responder a estas perguntas biblicamente sem raciocinar a partir de implicação.
Terceiro, além de [1] afirmações diretas e [2] implicação, a Bíblia autoriza por [3] exemplos . Paulo advertiu os coríntios que eles poderiam estar perdidos dizendo-lhes o que aconteceu a Israel no deserto por causa do pecado (1 Coríntios 10:1-14). Embora os israelitas estivessem “uma vez salvos”, eles não estavam “salvos para sempre.” Eles pereceram no deserto e nunca chegaram à Terra Prometida. Paulo disse, com efeito: “Não sigam o exemplo deles, ou de outra forma isto pode acontecer a vocês!” A Bíblia ensina por meio de exemplo que um cristão pode abandonar a fé, retornar a uma vida de pecado, e ser perdido.
Os exemplos podem ser positivos ou negativos.

Jesus não retaliava quando era insultado (1 Pedro 2:21-25).

Pedro mostrou preconceito para com os gentios quando os judeus estavam presentes, e Paulo o confrontou (Gálatas 2:11-14).

Os macedônios contribuíam generosamente para ajudar os outros, apesar de sua própria pobreza (2 Coríntios 8:1-9).

A igreja primitiva se reunia no primeiro dia da semana para partir o pão (Atos 20:7).

Os coríntios ofertavam no primeiro dia da semana (1 Coríntios 16:1-2).
Estudando exemplos bíblicos, a pessoa deve distinguir [1] o que é essencial (digamos, tomar a Ceia do Senhor) do que é incidental (digamos, tomar a ceia num “salão superior” próximo à meia noite), [2] o que é permanente (a pregação do evangelho, arrependimento, e batismo no Dia de Pentecostes) do que é temporário (o falar em línguas no mesmo dia), [3] questões de princípio (humildade, serviço) de questões de costume (cobrir a cabeça da mulher, lavagem de pés), e [4] o que é exigido (compartilhar os bens) do que é opcional (vender os seus campos).
Alguém pode fazer objeção à autoridade pelo exemplo dizendo: “A Bíblia nunca ordena a observância semanal da Ceia do Senhor, e nunca proíbe a observância da Ceia do Senhor em outros dias da semana.”Nem ordena a oferta semanal, ou cantar, ou até mesmo pregação!
A Bíblia claramente autoriza estas coisas pelo exemplo. E isto é suficiente.

Aqui estão alguns pensamentos finais.

Às vezes a Bíblia autoriza muito especificamente: “Imergir em água.” Substituir outro elemento (além da água) para o batismo, ou mudar o modo de imersão para aspersão ou derramar água, seria violar o mandamento.

“Designar presbíteros.” Apontar arcebispos e papas em vez ou em adição seria desautorizado.

Outras vezes a Bíblia autoriza de maneira muito geral : “Preguem o evangelho.” Os cristãos podem então escolher os melhores meios específicos (literatura, rádio, viagem aérea, etc.) para cumprir esta instrução sem violá-la.

Faça agora o Exercício.



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