quarta-feira, 29 de abril de 2020

Lição 2 - Autoridade Bíblica e Tradição Humana; Autoridade Bíblica por Afirmações Diretas


HERMENÊUTICA DA RESTAURAÇÃO
2TRI - 2020

SEMINÁRIO TEOLÓGICO EBNESR
Prof. Alcides Marques















Lição 2 - Autoridade Bíblica e Tradição Humana; Autoridade Bíblica por Afirmações Diretas

Leitura: Mateus 15:1-20


Jesus Cristo afirmou: “Foi-me dada toda autoridade no céu e na terra. Portanto, vão e façam discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a obedecer a tudo o que eu lhes ordenei. E eu estarei sempre com vocês, até o fim dos tempos. (Mateus 28:18-20).” O princípio de autoridade bíblica, como o próprio Apelo da Restauração, tem sua raiz na pessoa e trabalho de Cristo. 

Buscar e insistir num “Assim diz o Senhor” para cada elemento da fé e prática cristãs não é retirar da centralidade de Cristo, mas honrá-lO como o Salvador e Cabeça do corpo. Esta preocupação não é nova e não começou no século dezenove.

Muitos reformadores e restauradores ao longo da história, muito antes dos tempos modernos, desafiaram as tradições criadas pelos homens e clamaram: “Apenas as Escrituras!”

Sem concordância em autoridade bíblica, nunca pode haver unidade religiosa.

O Apelo da Restauração é um chamamento para retornar a, e para limitar a igreja à autoridade das Escrituras. Jesus indicou que Ele expressaria Sua palavra autoritativa por meio dos apóstolos (Mateus 18:18-20; Lucas 10:16; João 13:25-27; 15:18-16:4; 16:12-15; 20:21-23; Atos 1:8; 10:41-43).

O que os apóstolos receberam do Senhor por revelação, eles entregaram às igrejas por inspiração (1 Coríntios 11:23; 15:3). As igrejas deviam então e devem agora guardar firmemente estas “tradições apostólicas (1 Coríntios 11:2; 15:1-2; 2 Tessalonicenses 2:15).” Ninguém – nem mesmo um anjo vindo do céu – estava autorizado a pregar um evangelho diferente (Gálatas 1:6-9). Qualquer pessoa que tentasse fazer isso era declarado “anátema” ou amaldiçoado.

Os apóstolos confiaram a Palavra a outros, como Timóteo, que deveriam guardá-la e proclamá-la; mas não alterá-la (1 Timóteo 1:3; 2 Timóteo 1:13; 2:2). As Escrituras estavam completas, embora “ouvidos com coceiras” iriam buscar algo mais (2 Timóteo 3:16-4:5). “A fé” foi de uma vez por todas entregue aos santos (Judas 1:3). Ninguém deveria “acrescentar” ou “tirar” da Palavra de Deus. 

Estas passagens, as quais estritamente limitam a autoridade religiosa à revelação bíblica, podem parecer duras e rígidas. Podem parecer legalistas, de mentalidade estreita, ou intolerantes, especialmente para uma cultura moderna que exalta a escolha pessoal, que rejeita a ideia da verdade absoluta, e que resiste a chamar qualquer uma das sinceras crenças religiosas de “falsa”. Contudo, o próprio Cristo manteve-se fiel exclusivamente à autoridade bíblica, e os cristãos simplesmente buscam seguir Seu ensino. Como um exemplo disso, a pessoa pode pensar em Mateus 15:1-20. 

Durante os séculos antes que Jesus viesse, alguns judeus haviam inventado e imposto tradições humanas, acrescentando-as à lei do Velho Testamento, e passando-as de uma geração para a outra.

Os fariseus consideravam estas leis feitas pelos homens como tendo autoridade igual às Escrituras. Eles exigiam o ritual de lavagem de mãos antes das refeições. Acreditavam que alimento impuro contaminava o coração do homem.

Jesus explicou que eles compreenderam às avessas. Ele disse que o que contamina um homem vem de dentro para fora; vem, não de mãos ou alimentos contaminados, mas de um coração impuro. Ele também acusou os fariseus de promoverem uma tradição que permitia uma pessoa evitar prover ajuda financeira a seus pais idosos, fazendo doações (chamadas de “corban”) ao templo.

Então esta pessoa poderia dizer a seus pais: “Desculpe-me, mas a ajuda que vocês poderiam receber de mim é um dom devotado a Deus (Mateus 15:5).” Ele também disse: “Assim vocês anulam a palavra de Deus, por meio da tradição que vocês mesmos transmitiram. E fazem muitas coisas como essa.”  (Marcos 7:12).” Jesus aplicou a profecia de Isaías 29:13 para os ensinos humanos deles.  

Os corações deles estavam longe de Deus. A adoração deles era vã. Os seus ensinamentos não passavam de regras feitas por homens. 

A mesma coisa aconteceu ao Novo Testamento desde que foi escrito. Algumas pessoas usando o nome de Cristo inventaram e impuseram tradições humanas, sem Sua autoridade. Por volta de 125 d.C., um novo ofício de “bispo” se desenvolveu. Em vez de um grupo de homens supervisionando uma igreja local, este bispo único iria governar uma diocese (um grupo de congregações). Depois de 150 d.C. estes bispos formaram concílios que se reuniam, faziam novas regras, e as impunham sobre as dioceses e igrejas individuais. Assim, líderes eclesiásticos tornaram-se uma nova fonte de autoridade. 

Por exemplo, através da influência de Agostinho no quarto século, líderes das igrejas aceitaram a doutrina do pecado original, a ideia de que as crianças nascem com a culpa de Adão e Eva. A partir desta crença, veio a necessidade do batismo de crianças (para o perdão de seus pecados herdados) e a prática de aspersão como uma alternativa para a imersão.

Nesse momento também surgiu a doutrina da imaculada conceição, a ideia de que a virgem Maria foi concebida sem o pecado original, de modo que ela não o “passasse adiante” para seu filho infante, Jesus. Além disso, a igreja desenvolveu o ensino do Limbo, um lugar entre o céu e o inferno para onde as crianças não batizadas vão quando morrem.

Estes ensinos apoiam-se num fundamento falso; eles também substituem o batismo por imersão pela aspersão e separam o batismo da fé pessoal, entendimento e arrependimento. 

No outro extremo está a popular tradição protestante de prometer a salvação sem qualquer batismo. Embora o Novo Testamento claramente indique que o batismo é um sepultamento na morte salvadora de Cristo (Romanos 6:1-4; Colossenses 2:12), para o perdão dos pecados (Atos 2:38) e salvação (Marcos 16:15-16; 1 Pedro 3:21), muitos líderes religiosos ensinam que a pessoa pode ser salva antes de ser batizada.

Muitos promovem a “oração do pecador” como um modo legítimo de receber a salvação. Esta oração expressa reconhecimento do pecado da pessoa e um desejo de “receber a Cristo como o seu Salvador pessoal.”

Alguns reivindicam outras fontes não-bíblicas de autoridade, que competem com ou contradizem o ensino bíblico. Uma dessas tais fontes, como notado acima, é a tradição criada pela igreja.

Alguns creem que a igreja produziu a Bíblia, e, portanto, num sentido, está acima da Bíblia. Eles dizem que Jesus deu as chaves da autoridade a Pedro, que passou esta chave adiante através de uma sucessão de papas, que então podem falar com divina autoridade com respeito a doutrinas previamente desconhecidas.

Eles afirmam que a Bíblia não precisa autorizar oração aos santos e a Maria, porque a igreja tem provido a autoridade. Os líderes religiosos na década de 1990 até mesmo pensaram em declarar Maria como sendo “co-redentora,” baseados na ideia de que ela, como o próprio Cristo, sofreu para perdoar o pecado humano quando assistia a Seu filho agonizar na cruz.

Algumas denominações têm seus próprios credos, tais como uma “confissão de fé,” que expressa o que  eles ou seus líderes acreditam sobre as Escrituras. Prováveis membros devem “subscrever” ou concordar com o credo a fim de se juntar ao grupo.

Uma segunda fonte concorrente é a revelação contemporânea. Alguns acreditam que a Bíblia não está completa ou atual. Eles dizem que Deus suplementou sua mensagem com o Livro de Mórmon, com profecias e visões modernas e carismáticas, ou com algum outro documento ou revelação. Eles colocam esta nova informação lado a lado com a Bíblia como se tivesse autoridade igual ou maior.

Uma terceira fonte de autoridade concorrente são os sentimentos individuais, subjetivos. Muitos vão dizer algo neste sentido: “Eu sei que estou salvo porque me sinto salvo. O que quer que a Bíblia diga ou não diga, eu sei que isto ou aquilo é verdade pelo que sinto em meu coração.” Alguns afirmam: “Deus me disse…” e a seguir prosseguem declarando informação nova que Deus supostamente os revelou a eles somente. Outros podem basear suas crenças, pelo menos em parte, no que um pregador favorito disse, ou no que seus pais aceitaram. Um pregador ou pai pode (ou não) ser um bom agente para proclamar a verdade de Deus; apenas as Escrituras contêm a verdade de Deus. 

Tudo isto levanta a questão: mas como é que as Escrituras autorizam?

Uma pergunta paralela é: como os pais autorizam seus filhos? Como eles indicam que alguns comportamentos são mandatórios (obrigatórios), outros são proibidos, e ainda outros são opcionais?

Bem, pais em primeiro lugar usam afirmações diretas para expressar permissão ou proibição. Isto pode incluir “comandos” no sentido estrito, mas também outros tipos de afirmações também. Deus fala através das Escrituras da mesma maneira. 

Reflita sobre os vários tipos de afirmações diretas, usadas tanto pelos pais como por Deus, para expressar aprovação, proibição, ou dar instruções. 

[1] Afirmações imperativas dão ordens. Os pais podem dizer: “Entre ali e arrume o seu quarto!” Isto é bem claro! Da mesma maneira as Escrituras podem dizer: “Vão e preguem o evangelho!” Esta é a única maneira pela qual os pais autorizam? Certamente que não. O mesmo é verdade em relação à Bíblia. 

[2] Afirmações declarativas afirmam fatos. Os pais podem dizer: “É a sua vez de lavar os pratos.” Eles querem dizer: “Lavem os pratos!” Da mesma forma a Bíblia pode usar uma afirmação declarativa, tal como, “Quem crer e for batizado será salvo! (Marcos 16:16)” Esta afirmação significa: “Creia e seja batizado a fim de ser salvo!” embora não é expressa como um mandamento de per si (por si própria). 

[3] Afirmações interrogativas fazem perguntas. Os pais podem dizer: “Quem lhe disse que você poderia usar este traje?” Eles queriam dizer: “Não use este traje!” Do mesmo modo, a Bíblia pode fazer uma pergunta como: “Foi Paulo crucificado em favor de vocês (1 Coríntios 1:13)?” Isto significa: “Paulo não foi crucificado por vocês, assim vocês não devem usar o nome de Paulo ou comprometer sua fidelidade exclusiva a Cristo.” 

[4] Afirmações na forma de Orações. Os pais podem dizer: “Estou orando que o Senhor lhe ajude a ser mais paciente e diligente.” Da mesma forma a oração: “Que o Senhor faça o seu amor crescer (1 Tessalonicenses 3:12),” autoriza e exorta os cristãos a desenvolverem um amor maior, com a ajuda de Deus. 

[5] Afirmações exortativas exortam. Os pais podem dizer: “Vamos ter o cuidado de fazer o nosso dever de casa na hora certa.” Da mesma forma, a Bíblia pode exortar os cristãos dizendo: “Portanto... apeguemo-nos com firmeza à esperança que professamos (Hebreus 10:23.” Esta afirmação significa: “Cristãos, guardem a fé!”

[6] Afirmações condicionais dizem: “se isto, então aquilo.” Os pais podem dizer: “Se você não estiver pronto às 7:30, você não pode ir.” Da mesma forma, as palavras de Jesus: “Ninguém pode entrar no reino de Deus, se não nascer da água e do Espírito (João 3:5),” significa, de fato, “Vocês devem nascer de novo.” 

[7] Afirmações de desejo. Os pais podem dizer: “Que você possa aprender sua lição desta vez!” A Bíblia pode também usar um desejo, tal como: “De maneira nenhuma (que a pessoa continue em pecado para que a graça possa abundar) (Romanos 6:1-2)!” para proibir o cristão de continuar a pecar. 
[8] Parábolas/afirmações na forma de histórias. Os pais podem proibir comportamento agressivo dizendo: “Era uma vez uma criança que bateu na sua irmãzinha e foi punida.” Jesus usou parábolas, como a do Filho Pródigo (Lucas 15:11-32), para ordenar “os justos” a receberem “pecadores” em suas casas. 


Responda ao Exercício dessa lição.




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